quarta-feira, 20 de abril de 2011

Equipas do passado: Sertanense em 1980/81

A descida à 2.ª Divisão Distrital esteve iminente no final da época anterior, mas uma conjugação de factores garantiu ao Sertanense a presença na 1.ª Distrital nesta época de 1980/81. Contudo, os problemas começaram logo no início da temporada.
O cargo de treinador ficara vago e ninguém parecia disposto a pegar na equipa. Mas Ângelo Bastos, que foi presidente da Câmara da Sertã entre 1976 e 1979, resolveu aceitar o convite que lhe foi endereçado pela Direcção.
“Fui treinador do Sertanense porque ninguém queria pegar na equipa. E como tinha sido jogador e acompanhava o futebol com uma certa regularidade, resolvi aceitar o convite para orientar o clube, coadjuvado pelo Jorge Serrano”, recorda Ângelo Bastos.
O plantel para este ano não sofreu grandes alterações face à época passada. Vítor Serrano, Ezequiel, Artur, José Marques, Rui Vaz, Jorge Marques, Jorge Coelho, Farinha e Tó Marques foram alguns dos jogadores que se mantiveram no clube, o que garantia alguma estabilidade.
A época começou com um empate em casa (0-0) com a Desportiva do Fundão, seguindo-se uma derrota (3-1) no terreno do Vitória de Sernache. O Sertanense voltou a perder (0-1) o jogo seguinte, desta feita com o Alcains. Na quarta jornada, deslocação à Covilhã, para defrontar o Benfica local e um empate (2-2) ao fim dos noventa minutos.
Mais três empates (Ginásio do Paul, Águias do Moradal e Cebolense) e uma derrota (Idanhense) atiraram com o Sertanense para a 12.ª posição da classificação.
Só à passagem da nona jornada é que surgiu o primeiro triunfo: a vítima foi o Desportivo de Castelo Branco e por números esclarecedores (4-0).
O resultado moralizou a equipa de Ângelo Bastos, que nos quatro jogos seguintes registou uma vitória (4-2 sobre as Minas da Panasqueira) e três empates (Unhais da Serra, Teixosense e Tortosendo-e-Benfica), o que conduziu o Sertanense até ao nono lugar da tabela classificativa.
No início da segunda volta, a deslocação ao campo da Desportiva do Fundão resultou numa derrota com sabor a injustiça (2-3). Mas no jogo seguinte, tudo foi diferente e nada melhor do que um derby para mostrar o quanto valia o plantel.
Os inevitáveis Farinha (com dois golos) e Rui Vaz (um golo) fizeram os três golos com que o Sertanense levou de vencida o Vitória de Sernache, que não conseguiu melhor do que um golo, por intermédio de Luís Filipe. Na crónica do jogo publicada no jornal «A Comarca da Sertã», Raul Simões escreveu: “Maior acutilância por banda do Sernache, resposta sempre pronta do Sertanense, mormente conduzida pelo ‘quase coxo’ Rui Vaz, muito bem secundado quer por Coelho, quer por Ezequiel a meio-campo, já que Tó Marques descaia para o lado direito e Mota para o lado esquerdo, e ficando Farinha sempre lá à frente. Entretanto, toda a defesa mantinha-se coesa”.
O jogo seguinte foi uma verdadeira catástrofe para o Sertanense, que saiu de Alcains vergado ao peso de uma estrondosa goleada (6-0). Contudo, a equipa rectificou logo na jornada seguinte, ‘despachando’ o Covilhã-e-Benfica pelo mesmo resultado.
Ângelo Bastos tinha razão no que dizia: “Os meus jogadores eram indivíduos que, dentro de campo, davam sempre tudo o que tinham e o que não tinham”.
A goleada foi inspiradora e os bons resultados continuaram: dois empates fora e duas vitórias em casa coroaram a melhor fase da época e catapultaram o Sertanense para a oitava posição.
Uma derrota (1-3) em Castelo Branco não esmoreceu a equipa, que empatou (0-0) em casa no jogo seguinte diante do Unhais da Serra.

A deslocação às Minas da Panasqueira ficou marcada por um episódio curioso: “Um dos carros, que transportava quatro dos nossos jogadores, atrasou-se e tivemos de pedir ao árbitro para atrasar o início de jogo, que estava marcado para as 15 horas. O campo ficava situado no cimo de um planalto e às 14h30m, tínhamos toda a equipa do Sertanense a olhar planalto abaixo para a estrada que o serpenteava a tentar encontrar algum sinal do carro que transportava os nossos jogadores. Quando chegaram foi uma festa. Pena foi termos perdido o jogo”, sublinha Ângelo Bastos.
Uma derrota (0-1) em casa frente ao Teixosense e um empate (0-0) no reduto do Tortosendo-e-Benfica fecharam a participação do Sertanense neste campeonato distrital, onde além do nono lugar final, os homens da Sertã conseguiram ser a terceira equipa mais concretizadora da prova (41 golos).

3 comentários:

  1. Isto sim, tempos em que o Sertanense era uma equipa com jogadores da terra, o que por sua vez levava as pessoas da terra ao futebol a apoioar as suas cores e os seus. Pena que se tenha perdido este sentido de futebol bairrista e tenho adotado o espirito das grandes equipas nacionais, com contratações de jogadores de "fora" para melhorar os resultados da equipe, quando afinal melhoraram os resultados e diminuiram os adeptos. 1 abraço

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  2. depois de ter lido esta reportagem simplesmente maravilhosa e com muita saudade destes tempos permitam-me felicitar os presentes e os ausentes que tantas glorias deram ao Sertanense. A maioria dos atletas são do nosso tempo por isso os recordo. Felicito o autor da reportagem pois até eu me comovi com os nomes de Rui Vaz, Victor Serrano, Artur e outros. Meu nome é SAUL, antigo Atleta do Victoria de Sernache. saudações e respeitos.

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  3. Muito obrigado pelo seu comentário.
    Se não me engano, fez parte da equipa do Vitória de Sernache que passou pela 2.ª Divisão na época de 1961/62. Também ela uma equipa memorável do nosso concelho.

    Cumprimentos,

    Pedro Farinha

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